Looking For Anything Specific?

 




FAMÍLIAS DE RAPAZES MORTOS SUSPEITAM DE EXECUÇÃO POLICIAL



Por: Redação do Jornal ABCD Maior (cidades@abcdmaior.com.br)

Para a polícia houve troca de tiros, mas comunidade da Vila Ferreira diz que jovens estavam sem arma


Faz oito dias que os moradores da Vila Ferreira, em São Bernardo, vivem cenas de terror. Tiroteio, mortes e cerco policial fazem parte da vida da comunidade desde a madrugada do último dia 13, quando policiais da Força Tática perseguiram três jovens de 16, 17 e 18 anos em um carro roubado. A ação terminou com a morte de dois adolescentes e a prisão do terceiro. Todos foram baleados na cabeça. As famílias e a comunidade suspeitam de execução policial. A polícia nega e diz que houve troca de tiros. O caso foi parar na Ouvidoria e Corregedoria da Polícia Militar. 

“Os meninos não eram bandidos ou traficantes como a polícia falou. Eram estudantes, cidadãos de bem, apenas crianças que erraram por dirigir um carro roubado”, comentou um dos familiares dos jovens, que por medo preferiu não se identificar. Para os parentes, uma das provas é o fato de a dona do carro roubado não ter reconhecido nenhum dos três rapazes. “Ela disse que a pessoa que a roubou tinha uma cicatriz e os meninos não tinham”, reforçou outro parente.  Os familiares explicam que o veículo roubado estava na comunidade desde 6 de julho. “Mas eles não roubaram.” 

As famílias dos jovens também contestam a troca de tiros e garantem que os adolescentes não estavam armados. “A perícia mostra que não havia resíduo de pólvora na mão de nenhum deles”, revelou um familiar. Para os parentes, as armas que apareceram dentro do carro roubado foram colocadas pela polícia. “Tinha gente da comunidade lá que viu e filmou. Tanto é que tem gente sendo perseguida pela polícia, por isso”, afirmou outro familiar.  

Outra situação, que para a família reforça a hipótese de execução policial, é o fato de a câmera de vigilância da Emeb Florestan Fernandes, local onde ocorreram as mortes, não ter filmado toda a ação. “A câmera filma a rua e quando o carro dos meninos para, a câmera fixa na parede e só volta a filmar a rua novamente quando o Samu e a perícia chegam. É estranho, não é ?”, questionou outro parente. 

As imagens já estão com a polícia. O secretário de Segurança de São Bernardo, Benedito Mariano, confirmou que a Ouvidoria e a Corregedoria da Polícia Militar pediram as gravações. “A Prefeitura cedeu as imagens da 1h até 3h da manhã. O assassinato ocorreu às 2h15. Isso era o que podíamos fazer para colaborar”, explicou Mariano.

Jovem que sobreviveu se fingiu de morto, diz parente

Os três jovens de 16, 17 e 18 anos eram amigos desde a infância, graças à amizade entre as mães dos rapazes. Dos três, apenas o mais novo sobreviveu. O jovem, que está internado e sob custódia da polícia, teria dito aos parentes que somente sobreviveu por ter se fingido de morto ao ser baleado. 

Ao juntar as peças do que dizem as testemunhas, policiais e o sobrevivente, familiares apuraram que os rapazes estavam em um carro roubado, foram interceptados pelos policiais da Força Tática, mas ficaram com medo e fugiram, parando apenas em frente da Emeb Florestan Fernandes, pois sabiam que ali havia uma câmera. “Eles achavam que estavam seguros”, lamentou um familiar.

“O jovem que dirigia saiu com as mãos para cima e implorou para não morrer, mas mandaram que ajoelhasse e atiraram na cabeça”, afirmou um parente do rapaz. As famílias dos jovens ainda relatam que o carro estava completamente alvejado. “O outro rapaz foi morto dentro do carro, no banco de trás, e depois arrastaram ele para fora”. Planos de trabalho e estudo foram interrompidos. “Um deles tinha entrevista de emprego no dia 14 e o outro ia começar um curso”, desabafou um familiar.

Bairro está cercado pela polícia desde sexta-feira

Após a morte dos dois jovens, na madrugada de 13 de julho, três ônibus foram incendiados e quatro foram apedrejados no Bairro Alves Dias, em São Bernardo, em locais próximos aos assassinatos. Desde o início, a polícia trabalha com a hipótese de que a comunidade é a responsável pelos ataques aos coletivos. Desde sexta-feira (18/07), as nove entradas da Vila Ferreira são vigiadas por policiais militares.

“O bairro está fechado, ninguém entra ou sai sem dar satisfação à polícia”, afirmou um morador que preferiu não se identificar. Outro morador, que também pediu sigilo de identidade, acha a situação constrangedora. “Isso é tirar o direito de ir e vir das pessoas. Temos que pegar fila para entrar e sair, mostrar documentos e até agora ninguém sabe o motivo real dessa operação.” 

De acordo com os moradores, das nove ruas usadas para entrar e sair da Vila Ferreira, apenas duas podem ser usadas atualmente. Os moradores podem sair pela rua João Batista Capitânio com a avenida Bezerra de Menezes e entrar pela rua José  Dias Donadelli.

Em nota, a Policia Militar explicou que o objetivo da operação é a manutenção da ordem pública que foi quebrada pelos ataques aos ônibus na região. A PM ainda afirmou que os policiais permanecerão no bairro por tempo indeterminado. Até o momento, três suspeitos foram presos acusados de participar da depredação dos coletivos. 

Fonte: http://www.abcdmaior.com.br/noticia_exibir.php?noticia=60640


Postar um comentário

0 Comentários