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Violência e exclusão causam morte precoce de travestis

PUBLICADO EM 15/03/15 - 03h00
Elas se consideram à margem de tudo, até dos que já são marginalizados pela sociedade. A violência vem de todos os lados, seja psicológica, social ou física. E, assim, nesse cenário caótico, envelhecer se torna um desafio. As travestis são vistas quase sempre como um símbolo do sexo, e a perda do vigor da juventude se torna um tabu. Em contraponto ao medo da velhice, para a maioria delas, a saída de casa já vem com uma premissa: o envelhecimento começa no momento em que colocam os pés na rua. A presidente do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual (Cellos), Anyky Lima, 59, afirma que, devido a toda a violência a que são sujeitas ao longo da vida, a maioria das travestis não chega aos 50 anos.





Os motivos são inúmeros, passando pelas modificações no corpo, uso de drogas e doenças sexualmente transmissíveis, a violência das ruas e entre elas mesmas e, finalmente, o preconceito. “Em nossas pesquisas, observamos que 98% das travestis entrevistadas já sofreram violência física – com uso de armas ou agressão corporal. A trajetória da violência começa com a família e segue por uma série de outras coisas ao longo dos anos. É possível inferir que a vida delas é, de fato, menor do que a de outros grupos”, explica o psicólogo e coordenador do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marco Aurélio Prado.
Para Prado, a expulsão e a saída de casa estão diretamente relacionadas à entrada na prostituição. “Seja por necessidade ou trabalho, são vidas mais vulneráveis. Além disso, é um grupo populacional que tem menos políticas de promoção de direitos”, revela. O especialista ainda acredita que a baixa escolaridade e o afastamento do trabalho formal também são fatores que, com a violência, medem a vulnerabilidade do grupo.
Relatos. Anyky Lima foi expulsa de casa aos 12 anos, e foi aí que a transformação começou. Foi batizada pelas amigas na rua e, como única saída para sobreviver, se prostituiu. Ela é uma das poucas que resistiram à pressão de toda a violência a que são expostas.
“Paguei o meu INSS, tenho uma aposentadoria e vivo como posso. Hoje, a sociedade me engole. Mas isso porque eu fui para a militância. Normalmente, não há lugar para as trans velhas. Elas não são respeitadas no bairro, no hospital, e a maioria não tem família. É tudo muito difícil”, conta.
Outra travesti, Sissy Kelly Lopes, 59, hoje mora em uma casa de apoio para pessoas com o vírus HIV e também milita pela causa. Ela é soropositivo, foi dependente química e concorda com Anyky sobre o fato de que poucas delas chegam à terceira idade. Ela conta que já ganhou muito dinheiro e já morou fora do país, mas tudo isso vai e vem.
“Já sobrevivi a muitas coisas. Mesmo com a Aids, já estive muito mais perto da morte. Passei situações de muita violência e já tive uma overdose de heroína. Foi nesse momento que aceitei a minha doença e decidi me cuidar. Mas não são todas que conseguem tomar essa decisão”, afirma.
Denúncias
Idade
.De acordo com dados levantados pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 70% das denúncias de violência recebidas pelo Disque-Direitos Humanos no Estado de Minas Gerais envolvem pessoas que têm entre 18 e 35 anos.

Perfil. Exceto as denúncias em que não se informa orientação sexual, as travestis são as que mais utilizam o serviço Disque-Direitos Humanos.
Argentina
Na Argentina, parlamentares querem instituir bolsa mensal para travestis, transexuais e transgêneros com mais de 40 anos que morem em Buenos Aires – uma espécie de aposentadoria precoce. O benefício proposto é de 8.000 pesos, cerca de R$ 2,4 mil. A maior parte dos travestis no país trabalha em atividade sexual – mais vulnerável à violência e a traficantes.
 Fonte:  http://www.otempo.com.br/cidades/viol%C3%AAncia-e-exclus%C3%A3o-causam-morte-precoce-de-travestis-1.1009090

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