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Burocracia do Estado exclui 240 deficientes da natação em Santo André

 

Nesta quarta-feira, 1º de maio, 240 deficientes de Santo André serão levados para o seu último piquenique no Parque Celso Daniel. Ao invés de curtirem o lazer ao ar livre, como fazem há sete anos, o grupo e seus familiares estão de luto. O Programa de Educação Física Adaptada, realizado com sucesso desde 2012 no Núcleo de Natação Adaptada de Santo André (Nanasa) parou de funcionar nesta segunda-feira (9), somente porque o projeto Esporte ao Alcançe de Todos, de R$ 901 mil, para cadastro na Lei Paulista de Incentivo ao Esporte, ainda não passou pela Comissão de Análise de Aprovação de Projetos (CAAP), ligada à Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude do Estado. Sem o projeto aprovado e publicado, não há como buscar patrocínio.
A chance de o programa não receber a última pá de terra será no próximo dia 8, quando a comissão se reúne para analisar novo lote de projetos. "Mesmo que seja aprovado, ainda precisaremos de mais três meses para captar patrocínios e o Nanasa voltar a funcionar", adverte José Carlos Bueno, presidente da Acide (Associação pela Cidadania do Deficiente), dirigida por deficientes e foi criada exclusivamente para administrar os recursos do programa.
"Tentamos obter informação para reportar aos alunos e funcionários ligados ao Nanasa, argumentar que temos uma estrutura montada, mas ninguém quer saber, apenas respondem que o problema é nosso e não deles", afirma Bueno, que prepara movimento no Parque Celso Daniel para esta quarta. "De março pra cá já aprovaram 103 e outros 80 que ainda não foram publicados pelo Diário Oficial", diz. A preocupação é que a demora também prejudique a captação de patrocínio. "Temos os nossos parceiros, mas podemos perdê-los", afirma.
A secretaria estadual informa, em nota, que o projeto Esporte ao Alcançe de Todos, para atender 240 alunos, no valor de R$ 901 mil, que está em fase final de análise, e se aprovado será publicado até final de maio.
Prefeitura
Bueno conta que já pediu ajuda à Prefeitura de Santo André, no sentido de evitar o fechamento do Nanasa, também sem sucesso. "Já tivemos reunião com a Secretaria de Governo e as futuras pastas de Esporte e Assuntos Institucionais, mas a resposta é que não tem dinheiro", diz. Por meio de nota, a Prefeitura de Santo André informa que trabalha para que o projeto seja aprovado e que o Nanasa retome as atividades.
José Carlos está inconformado com a interrupção do programa que caminha para 11º ano ininterrupto e já diplomou quase 1,4 deficientes, por meio da natação ministrada no Nanasa (rua Marechal Hermes, 485). Para funcionar, o programa conta ajuda da Prefeitura com a cessão do espaço, manutenção e mão-de-obra. Cerca de 2,5 mil já passaram pelo programa, que possui lista de espera com mais de 500 deficientes.
O Nanasa é o carro-chefe do programa, que vinha num ritmo crescente de novas atividades de integração social para inclusão do deficiente. Entre as ações destacam-se o Circuito Aventura, Festival de Pipas, Piquenique no Parque e o Festival de Natação Adaptada. O Programa de Educação Física Adaptada nasceu em abril de 2002 e já foi patrocinado por grandes empresas, e recebeu apoio de importantes faculdades na cessão de estagiários de educação física. O Piquenique no Parque acontece das 10 às 14h e a expectativa e atrair 500 pessoas, entre deficientes e familiares.
Mães estão revoltadas
Os familiares dos deficientes estão indignados com o descaso do poder público sobre o encerramento das atividades do Nanasa, por considerarem que não existem outros espaços voltados à inclusão social do deficiente. A auxiliar de enfermagem Ana Maria Ribeiro Silva, mãe de Guilherme, 12 anos, está inconformada, pois o filho autista caminhava para formatura no próximo semestre. Ana Maria afirma que agora o adolescente ficará só dentro de casa, como antes.
Ana Maria trabalha fora e, por falta de recursos, não tem como recorrer a escolas esportivas em São Paulo. Guilherme também não frequenta escola normal, porque a mãe diz que o filho sofre discriminação e foram retirados os monitores que cuidavam de alunos especiais nas salas de aula. "Não vou levar meu filho pra ficar jogado na sala de aula, se a criança normal já sofre imagine um autista. Por isso, o Nanasa era a alegria dele, agora acabou", diz a moradora da vila Palmares. A Prefeitura diz que não tem dinheiro para o Nanasa, mas tem sim, a gente sabe que tem dinheiro", diz.
Mike Gilioli é outro aluno do Nanasa. Sofre de politraumatismo craniano desde os 13 anos, por causa de uma queda de um prédio em Mauá, em 2009, quando tentava pegar um pipa. A mãe Rosimeire está preocupada com o fim do Nanasa, porque acredita que a depressão do adolescente vai voltar. Rosi diz que o curso fazia muito bem para o filho, até deixou a cadeira de rodas. Conta que é aluno da primeira série do ensino médio, mas que sofre muita discriminação na escola por causa da deficiência do jovem.
"O Nanasa trabalhava também essa parte e o ajudava muito, agora não sei o que fazer. É um absurdo, porque os deficientes têm todos os direitos do mundo. O Nanasa é o mínimo que podem fazer e agora o tiraram do meu filho", reclama a mãe.

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