Por Léo Duarte
Blog Garantia de Direitos
Quando a roda gira, o território respira
No dia 25 de maio de 2025, às 10h da manhã, a Praça dos Trabalhadores, no Jardim Silvina (São Bernardo do Campo – SP), será palco da Roda de Capoeira “Amigos do ART”. Dirigido por Mestre Besouro e organizado pela Equipe CECAN, o encontro reunirá mestres, praticantes e admiradores/as da capoeira para celebrar essa expressão que é, ao mesmo tempo, arte, memória e política.
Mais que um evento cultural, a roda representa um ato público de valorização das práticas negras populares, da resistência cotidiana dos territórios periféricos e da pedagogia do corpo em movimento.
A Roda dos Amigos do ART: mais que um encontro, um ato coletivo
A roda será conduzida por mestres que representam diferentes linhagens da capoeira e trajetórias de vida marcadas pela transmissão oral e pelo compromisso com a comunidade: Mestre Besouro, Mestre Faísca e Mestre Ressoura. A proposta é reunir diferentes gerações em torno do jogo simbólico e corporal da capoeira, reafirmando-a como prática de cuidado, ancestralidade e reinvenção.
A atividade será realizada em espaço público, com acesso gratuito, e marca a ampliação do trabalho desenvolvido pela Associação Art Negra — organização que atua no Jardim Silvina utilizando a capoeira como linguagem de pertencimento, formação cidadã e construção de vínculos comunitários.
Capoeira como prática educativa e emancipadora
Mais que esporte ou manifestação folclórica, a capoeira é uma forma de educar e fortalecer subjetividades historicamente marginalizadas. No cotidiano da Associação Art Negra, essa prática se traduz em encontros regulares com crianças e adolescentes da região, que encontram no jogo e no canto um caminho de escuta, disciplina e afirmação identitária.
A roda do dia 25 não será apenas um espetáculo para quem assiste: será uma vivência educativa compartilhada por mestres, aprendizes e moradores/as do território. Em um país onde políticas públicas para juventude e cultura são sistematicamente descontinuadas, como mostra o Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo (2023), cada ginga é resistência concreta contra o apagamento.
Cultura é direito, não favor
Segundo a PNAD Contínua (IBGE, 2023), menos de 4% dos recursos públicos em cultura alcançam periferias urbanas ou projetos ligados à cultura negra. Mesmo assim, iniciativas como a do Art Negra seguem pulsando, sustentadas por trabalho voluntário, redes afetivas e parcerias comunitárias.
A expectativa é de que a roda reúna dezenas de participantes de diferentes bairros, criando um ambiente de troca, valorização e visibilidade para práticas culturais que constroem laços sociais e fortalecem o direito à cidade. A presença pública dessas expressões transforma a praça em território de vida, não apenas de passagem.
Memória viva em movimento
A capoeira é um corpo que fala, uma história que se escreve com os pés, a voz e o ritmo. Cada toque de berimbau, cada ladainha entoada e cada movimento no jogo compõem uma memória coletiva que resistiu à escravidão, à criminalização e à tentativa de apagamento.
A Roda dos Amigos do ART é, portanto, mais que uma atividade cultural: é uma ação simbólica que reconecta passado e presente, afirmando que a cultura popular não é resquício do que fomos, mas promessa do que podemos ser.
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