O direito ao brincar está previsto no artigo 31 da Convenção
Internacional sobre os Direitos da Criança, na Constituição Federal e no
Estatuto da Criança e do Adolescente. Em pesquisa realizada pelo International
Play Association (IPA) em 2010, envolvendo oito países em quatro continentes,
foram identificadas 115 violações do direito de brincar pelo mundo, tais como a
pressão para a aquisição de conhecimento educacional, o crescente papel da
mídia eletrônica e a baixa consciência da importância do brincar e da
recreação. Observando as crianças brincarem, podemos notar que esse ato é
essencial para a construção das relações, e que brincar acontece durante toda a
vida. É muito comum que crianças ao se juntarem, sempre questionam vamos
“— Brincar de quê?”. Pensando nisso, o termo foi escolhido para dar nome ao
projeto e ao título do livro desenvolvido pela Rede Marista de Solidariedade,
por meio do Centro Marista de Defesa da Infância, na PUCPR, em Curitiba.
O lançamento do livro “Brincadiquê? Pelo Direito ao Brincar”, foi realizado no Espaço FTD Digital Arena, durante o seminário “O Direito ao Brincar e as Práticas Lúdicas para a Infância”. A publicação reúne artigos com temas que tratam do brincar, a exemplo das diferentes culturas infantis, das múltiplas linguagens, do espaçotempo, da educação, dos jogos, brinquedos e brincadeiras e da convivência familiar e comunitária. O livro trás, ainda, relatos de experiências e apresenta ações e práticas que apoiam e indicam novas possibilidades para efetivação deste direito nos cotidianos das instituições que compõem o Sistema de Garantia de Direitos.
“É importante fomentar os projetos e políticas públicas com foco no brincar, a fim de fortalecer e efetivar esse direito para as crianças. Cabe aos adultos, educadores, voluntários, agentes sociais e de saúde, entre outros, facilitar a ação lúdica e a promoção desse direito”, enfatiza Sheila Pomilho, analista de assessoramento do Centro Marista de Defesa da Infância e organizadora do livro. E sobre a necessidade de brincar das crianças, o Bem Paraná conversou Sheila. Veja os principais trechos da entrevista:
Bem Paraná — As crianças estão brincando menos?
Sheila Pomilho — Todas as crianças brincam, mesmo com as diferentes mudanças que tem ocorrido em sua dinâmica de vida, assim como no espaço geográfico. É verdade que o brincar tem sido prejudicado pelas ruas cada vez mais movimentadas de veículos, a diminuição dos espaços públicos de lazer, a sensação crescente de insegurança, a adultização precoce, etc. Mesmo assim, a criança sempre vai brincar, independentemente de ter um espaço ou situação adequados para isso, mesmo que na imaginação. Para que as crianças possam brincar sempre que desejarem e para que seu tempo de Infância não fique cerceado por questões que poderiam ser cumpridas em outros momentos de sua vida, é importante garantir nas políticas públicas e nos programas voltados para a Infância, ações que possam efetivar este direito. Isso se faz por meio da construção de brinquedotecas nos municípios e Universidades, parques e praças adequadas e bem conservadas, além de uma ampliação dentro das diferentes áreas da rede de proteção à Infância, ações para incluir e enfrentar a violação desse direito, todas as vezes que ele for negado.
BP — Como reverter isso nas escolas? Preparar os professores?
Sheila — Na sociedade, ainda existe a ideia de que o brincar na escola deve ser assegurado apenas nos momentos de ócio e não como uma prática de fomento ao desenvolvimento integral da criança,. Os desafios que fragilizam a formação continuada dos educadores devem ser amplamente debatidos, para que este direito possa ser efetivado também por educadores. Para isso, devem ser assegurados em sua formação continuada os assuntos que são pertinentes a um desenvolvimento integral das crianças. É necessário, ainda, que se inclua no currículo escolar o direito ao brincar de maneira ampliada e articulada ao projeto pedagógico realizado em cada equipamento. Os gestores são parceiros que podem garantir materiais adequados e em quantidade suficiente para que o direito ao brinquedo e o brincar não seja prejudicado dentro da escola.
BP — E os pais, como devem agir com as crianças em casa?
Sheila — O adulto é um dos primeiros brinquedos da criança, podendo ele se comunicar de maneira afetiva e participativa nos momentos das atividades lúdicas exercidas pela criança. Com isso, é possível não interromper, mas, sobre tudo, provocar novas oportunidades da criança brincar com segurança e de maneira livre. É importante que o adulto, organize seu tempo e demonstre valorizar essa linguagem própria das crianças, oferecendo espaços, brinquedos, diferentes materiais e o encontro com outras idades, para que por meio da interação as crianças possam exercer diferentes papéis, que contribuirão com sua atuação enquanto cidadã.
BP — Até que idade as crianças devem brincar? Como prolongar isso em um mundo de “adultização”
Sheila — Acredito que não só a criança, mas todas as pessoas devem brincar durante toda a vida. O brincar proporciona desenvolvimento integral e contribui de maneira significativa para o aprendizado das crianças nas áreas cognitiva, emocional e social e em sua vida posterior, quando adulta. Por isso não devemos sobrecarregar o dia a dia das crianças com atividades que descaracterizem seu papel ou suas atividades próprias da infância. É preciso haver um discernimento entre o tempo da infância e os compromissos escolhidos pelo adulto.
BP — De que maneira a internet no dia-a-dia das crianças têm afetado o comportamento e o tempo de brincar?
Sheila — Os recursos midiáticos contribuem para o aprendizado e podem responder de forma positiva o desenvolvimento integral da infância. Porém, o direito ao brincar é afetado quando a criança desenvolve uma mesma atividade por um longo período de tempo. A internet utiliza-se de recursos atrativos e já construídos, prejudicando a atuação da criança sobre o brincar. Já as brincadeiras, auxiliam para que a criança tenha seu tempo de criatividade, participação e interação ampliado e respeitado de forma legitima para seu crescimento. O acesso à tecnologia de maneira excessiva prejudica as atividades próprias da criança em qualquer local, a criança sempre fará escolhas por meio do que mais lhe é ofertado.
BP — Que dicas você dá para que a brincadeira seja mantida na família?
Sheila — Os encontros entre as diferentes idades e a troca de saberes fazem com que as brincadeiras sejam mantidas por muitas gerações. Por isso, é necessário que as famílias garantam momentos de interação e ludicidade em todas as oportunidades que estiverem com as crianças. Resgatando brincadeiras, aproximando-se e buscando entender quais brincadeiras foram inseridas nos espaços para as crianças atualmente e quais precisam ser mantidas.
O lançamento do livro “Brincadiquê? Pelo Direito ao Brincar”, foi realizado no Espaço FTD Digital Arena, durante o seminário “O Direito ao Brincar e as Práticas Lúdicas para a Infância”. A publicação reúne artigos com temas que tratam do brincar, a exemplo das diferentes culturas infantis, das múltiplas linguagens, do espaçotempo, da educação, dos jogos, brinquedos e brincadeiras e da convivência familiar e comunitária. O livro trás, ainda, relatos de experiências e apresenta ações e práticas que apoiam e indicam novas possibilidades para efetivação deste direito nos cotidianos das instituições que compõem o Sistema de Garantia de Direitos.
“É importante fomentar os projetos e políticas públicas com foco no brincar, a fim de fortalecer e efetivar esse direito para as crianças. Cabe aos adultos, educadores, voluntários, agentes sociais e de saúde, entre outros, facilitar a ação lúdica e a promoção desse direito”, enfatiza Sheila Pomilho, analista de assessoramento do Centro Marista de Defesa da Infância e organizadora do livro. E sobre a necessidade de brincar das crianças, o Bem Paraná conversou Sheila. Veja os principais trechos da entrevista:
Bem Paraná — As crianças estão brincando menos?
Sheila Pomilho — Todas as crianças brincam, mesmo com as diferentes mudanças que tem ocorrido em sua dinâmica de vida, assim como no espaço geográfico. É verdade que o brincar tem sido prejudicado pelas ruas cada vez mais movimentadas de veículos, a diminuição dos espaços públicos de lazer, a sensação crescente de insegurança, a adultização precoce, etc. Mesmo assim, a criança sempre vai brincar, independentemente de ter um espaço ou situação adequados para isso, mesmo que na imaginação. Para que as crianças possam brincar sempre que desejarem e para que seu tempo de Infância não fique cerceado por questões que poderiam ser cumpridas em outros momentos de sua vida, é importante garantir nas políticas públicas e nos programas voltados para a Infância, ações que possam efetivar este direito. Isso se faz por meio da construção de brinquedotecas nos municípios e Universidades, parques e praças adequadas e bem conservadas, além de uma ampliação dentro das diferentes áreas da rede de proteção à Infância, ações para incluir e enfrentar a violação desse direito, todas as vezes que ele for negado.
BP — Como reverter isso nas escolas? Preparar os professores?
Sheila — Na sociedade, ainda existe a ideia de que o brincar na escola deve ser assegurado apenas nos momentos de ócio e não como uma prática de fomento ao desenvolvimento integral da criança,. Os desafios que fragilizam a formação continuada dos educadores devem ser amplamente debatidos, para que este direito possa ser efetivado também por educadores. Para isso, devem ser assegurados em sua formação continuada os assuntos que são pertinentes a um desenvolvimento integral das crianças. É necessário, ainda, que se inclua no currículo escolar o direito ao brincar de maneira ampliada e articulada ao projeto pedagógico realizado em cada equipamento. Os gestores são parceiros que podem garantir materiais adequados e em quantidade suficiente para que o direito ao brinquedo e o brincar não seja prejudicado dentro da escola.
BP — E os pais, como devem agir com as crianças em casa?
Sheila — O adulto é um dos primeiros brinquedos da criança, podendo ele se comunicar de maneira afetiva e participativa nos momentos das atividades lúdicas exercidas pela criança. Com isso, é possível não interromper, mas, sobre tudo, provocar novas oportunidades da criança brincar com segurança e de maneira livre. É importante que o adulto, organize seu tempo e demonstre valorizar essa linguagem própria das crianças, oferecendo espaços, brinquedos, diferentes materiais e o encontro com outras idades, para que por meio da interação as crianças possam exercer diferentes papéis, que contribuirão com sua atuação enquanto cidadã.
BP — Até que idade as crianças devem brincar? Como prolongar isso em um mundo de “adultização”
Sheila — Acredito que não só a criança, mas todas as pessoas devem brincar durante toda a vida. O brincar proporciona desenvolvimento integral e contribui de maneira significativa para o aprendizado das crianças nas áreas cognitiva, emocional e social e em sua vida posterior, quando adulta. Por isso não devemos sobrecarregar o dia a dia das crianças com atividades que descaracterizem seu papel ou suas atividades próprias da infância. É preciso haver um discernimento entre o tempo da infância e os compromissos escolhidos pelo adulto.
BP — De que maneira a internet no dia-a-dia das crianças têm afetado o comportamento e o tempo de brincar?
Sheila — Os recursos midiáticos contribuem para o aprendizado e podem responder de forma positiva o desenvolvimento integral da infância. Porém, o direito ao brincar é afetado quando a criança desenvolve uma mesma atividade por um longo período de tempo. A internet utiliza-se de recursos atrativos e já construídos, prejudicando a atuação da criança sobre o brincar. Já as brincadeiras, auxiliam para que a criança tenha seu tempo de criatividade, participação e interação ampliado e respeitado de forma legitima para seu crescimento. O acesso à tecnologia de maneira excessiva prejudica as atividades próprias da criança em qualquer local, a criança sempre fará escolhas por meio do que mais lhe é ofertado.
BP — Que dicas você dá para que a brincadeira seja mantida na família?
Sheila — Os encontros entre as diferentes idades e a troca de saberes fazem com que as brincadeiras sejam mantidas por muitas gerações. Por isso, é necessário que as famílias garantam momentos de interação e ludicidade em todas as oportunidades que estiverem com as crianças. Resgatando brincadeiras, aproximando-se e buscando entender quais brincadeiras foram inseridas nos espaços para as crianças atualmente e quais precisam ser mantidas.
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