Em
alusão à Copa do Mundo, organizações não governamentais lançaram hoje
(10), na capital paulista, uma campanha para chamar atenção para o
trabalho de onze brasileiros que defendem direitos fundamentais e que,
por isso, têm suas vidas em risco e são criminalizadas.
A
iniciativa, batizada de "Linha de Frente: Defensores de Direitos
Humanos", tem como objetivo “sensibilizar a opinião pública a respeito
das sistemáticas violações de direitos no país do futebol”.
“É uma
situação gravíssima a condição de vulnerabilidade, de ameaça e de
violência em que muitos defensores se encontram ainda hoje”, disse a
assessora jurídica da organização Terra de Direitos, Luciana Pivato.
Ela destaca que essa realidade está em conflito com a posição assumida
pelo Estado brasileiro, que é signatário de diversos tratados e
convenções internacionais de Direitos Humanos.
A
seleção de defensores dos direitos humanos que encabeça a campanha é
formada por pessoas que lutam por avanços nas áreas de meio ambiente,
acesso à terra, diversidade sexual, na defesa de populações indígenas,
entre outras questões sociais. A organização, composta também pela
Justiça Global e pela Front Line Defenders, avalia que essas pessoas, em
vez de serem reconhecidos por esse trabalho, são perseguidas por
empresas e pelo próprio Estado.
O
cacique Ládio Veron, da etnia Guarani-Kaiowá, faz parte do time da
campanha e representa a luta pela demarcação do território indígena em
Mato Grosso do Sul. “Há anos estamos lutando e há anos estamos perdendo
as nossas lideranças. Hoje estamos batalhando para sobreviver e às vezes
até fugindo por causa das ameaças”, relatou.
Ele
destacou que, de 2003 a 2012, 287 líderes indígenas foram mortos no
processo de retomada de terras. Umas dessas pessoas foi o pai do
cacique, assassinado há 11 anos. “E quem matou está impune”, apontou.
Em Rio
dos Macacos, no município baiano de Simões Filho, a quilombola Rosemeire
dos Santos Silva também teme pela vida dela e da família. De acordo com
o Ministério Público da Bahia, a comunidade existe há mais de 200 anos
e, desde a década de 1970, enfrenta um conflito com a Marinha do Brasil.
O local onde a comunidade está instalada foi escolhido para a
construção da Vila Naval de Aratu. Desde então, a comunidade passou a
ser alvo de ações violentas por parte dos oficiais com a intenção de
expulsar as famílias do quilombo.
“O
nosso território era de mais de 900 hectares de terra e hoje se resume a
301. Um local que tem mais de 500 pessoas”, explicou Rosemeire. Segundo
ela, as atividades desenvolvidas no quilombo, como pesca e agricultura,
estão prejudicadas em razão do conflito. A quilombola denunciou que,
desde a infância, presencia agressões e hoje continua sendo agredida e
ameaçada. “A gente escutava dos mais velhos que não podia denunciar,
porque o nosso povo ia acabar. Hoje, estou dando a minha vida para
defender o quilombo”.
Outra
representante do time é Débora Silva, fundadora da organização Mães de
Maio, que luta por justiça pelas mortes de mais de 600 jovens negros da
periferia paulista em 2006. Segundo organizações de direitos humanos, os
assassinatos foram uma reação de grupos de extermínio com a
participação de agentes do Estado à ataques da organização criminosa
Primeiro Comando da Capital (PCC).
As
dificuldades e lutas da comunidade LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais) foram trazidas à tona por Indianara Siqueira,
do Rio de Janeiro, e Márcio Marins, do Paraná. A luta do povo Tupinambá
pelo reconhecimento da identidade indígena e do território foi narrada
pelo Cacique Babau, da Bahia.
Além
dos seis defensores de direitos humanos que estiveram em São Paulo hoje
para o lançamento, completam o time o carioca Vitor Lira, que traz a
experiência das recentes violações em nome dos megaeventos; Rosivaldo
Correia, do Pará, em nome da resistência quilombola; João do Cumbe, do
Ceará, que denuncia a vulnerabilidade dos modos de vida tradicionais de
pescadores e ribeirinhos; e Laísa Santos Sampaio e Osvalinda Pereira,
do Pará, vítima de conflitos agrários e as violações de direitos no
campo no estado.
Estão
previstas atividades da seleção de defensores de direitos humanos em
outras três cidades-sede da Copa do Mundo: Curitiba, no dia 16,
Fortaleza e Rio de Janeiro, ainda sem datas divulgadas.
Fonte: http://www.justicaemfoco.com.br/?pg=desc-noticias&id=89683&cat=Mais%20Not%C3%ADcias
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